Dieta hipoglicêmica melhora A1c e outros fatores de risco no diabetes

Dieta hipoglicêmica melhora A1c e outros fatores de risco no diabetes

Uma dieta rica em vegetais e pobre em carboidratos – a chamada dieta de baixo índice glicêmico – está associada a benefícios clinicamente expressivos, além dos oferecidos pelos medicamentos para tratar o diabetes tipo 1 e tipo 2, em comparação a uma dieta hiperglicêmica, revelam os achados de uma nova metanálise.

"Embora os efeitos tenham sido pequenos, o que não é surpreendente nos ensaios clínicos sobre nutrição, houve melhora clinicamente significativa para a qual nosso grau de certeza dos efeitos foi moderado a alto", disse ao Medscape a primeira autora do estudo, Dra. Laura Chiavaroli, Ph.D., do Department of Nutritional Sciences, Temerty Faculty of Medicine, University of Toronto, no Canadá.

O índice glicêmico avalia alimentos tendo como parâmetro a rapidez com a qual modificam a glicemia.

Frutas, legumes e cereais integrais têm baixo índice glicêmico e ajudam a regular a glicemia. Estes alimentos estão ligados a menor risco de doença cardíaca entre os pacientes com diabetes.

Mas as diretrizes sobre o tema – como as da European Association for the Study of Diabetes – refletem pesquisas publicadas há mais de 15 anos, antes de terem sido publicados vários ensaios clínicos de suma importância.

Dra. Laura e colaboradores identificaram 27 ensaios clínicos randomizados e controlados – dentre os quais, os mais recentes foram publicados em maio de 2021 –, com o total de 1.617 participantes adultos com diabetes tipo 1 ou 2. Para os pacientes desses ensaios, o diabetes estava moderadamente controlado com hipoglicemiantes ou insulina. Todos os ensaios clínicos incluídos examinaram os efeitos de uma dieta com baixo índice glicêmico ou com baixa carga glicêmica em pacientes com diabetes durante um período três semanas ou mais. A maioria dos pacientes dos estudos tinha sobrepeso ou obesidade, e grande parte era de meia-idade.

A metanálise, que incluiu novos dados, foi publicada no periódico BMJ. O estudo "amplia o número de desfechos cardiometabólicos intermediários relevantes e avalia o grau de certeza das evidências utilizando o instrumento GRADE (Grading of Recommendations Assessment, Development, and Evaluation)", observou Dra. Laura e colaboradores.

"As evidências disponíveis oferecem uma boa indicação do provável benefício para esta população e subsidiam as recomendações existentes para o uso de padrões alimentares de baixo índice glicêmico para o controle do diabetes", enfatizaram os autores.

Melhora dos níveis de hemoglobina glicada, glicemia de jejum, colesterol e triglicerídeos

Em geral, em comparação às pessoas cuja alimentação têm um índice glicêmico mais elevado/baixa carga glicêmica, os que seguiam dietas hipoglicêmicas alcançaram um controle glicêmico significativamente melhor, como refletido no nível de hemoglobina glicada (A1c), que foi o desfecho primário do estudo (diferença média de -0,31%; < 0,001).

Isto "atingiria o limiar de redução de ≥ 0,3% da A1c proposto pela European Medicines Agency como clinicamente relevante para a redução do risco de complicações diabéticas", observaram os autores.

Os pacientes que consumiram dietas hipoglicêmicas também apresentaram melhora dos desfechos secundários, como glicemia de jejum, que caiu 0,36 mmol/L (- 6,5 mg/dL), bem como redução de 6% da lipoproteína de baixa densidade do colesterol (LDL, do inglês Low-Density Lipoprotein) (- 0,17 mmol/L) e de triglicerídeos (- 0,09 mmol/L).

Eles também perderam um pouco mais de peso: -0,66 kg. O índice de massa corporal (IMC) caiu até -0,38 e a inflamação foi menor (proteína C reativa = -0,41 mg/L; todos < 0,05).

Não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em termos de níveis séricos de insulina, lipoproteína de alta densidade (HDL, High Density Lipoprotein) do colesterol, circunferência abdominal ou pressão arterial sistêmica.

Três estudos mostraram que os participantes tomaram gosto pela dieta de baixo índice glicêmico. "Nos últimos anos, tem havido cada vez mais interesse nas dietas à base de vegetais ou alimentos integrais, e há outras opções, por exemplo, as leguminosas", comentou Dra. Laura.

Esta metanálise deve respaldar a recomendação da dieta hipoglicêmica, particularmente para os pacientes com diabetes, reiterou.

Estudos randomizados com mais pacientes revelarão efeitos nos desfechos?

Os autores observaram, entretanto, que para determinar se essas pequenas melhoras nos fatores intermediários de risco cardiometabólico observadas com as dietas de baixo índice glicêmico se traduzem na diminuição da ocorrência de doença cardiovascular, nefropatia e retinopatia entre os pacientes com diabetes, são necessários ensaios clínicos randomizados maiores.

Um desses ensaios, o Low Glycemic Index Diet for Type 2 Diabetes Trial, conta com 169 pacientes de alto risco com diabetes tipo 2 e aterosclerose subclínica. Os pesquisadores estão avaliando o efeito de uma dieta de baixo índice glicêmico na progressão da aterosclerose, acompanhada por ressonância magnética vascular durante três anos.

"Aguardamos os resultados", disseram os autores.

Este estudo recebeu financiamento do Diabetes and Nutrition Study Group of the European Association for the Study of Diabetes (EASD) como parte da elaboração das EASD Clinical Practice Guidelines for Nutrition Therapy. O estudo também foi subsidiado pelos Canadian Institutes of Health Research através da rede de Canada-wide Human Nutrition Trialists' Network. O Diet, Digestive Tract, and Disease (3D) Center, financiado pela Canada Foundation for Innovation and the Ministry of Research and Innovation"s Ontario Research Fund, forneceu a infraestrutura do estudo.

BMJ. Publicado em 05 de agosto de 2021. Texto completo

Fonte: Medscape | Portal da Enfermagem